Como eram as brincadeiras de antigamente: a infância antes das telas

Houve um tempo em que brincar era uma experiência física, coletiva e espontânea. Sem a mediação de telas, algoritmos ou controles remotos, as crianças de antigamente corriam pelas ruas, inventavam regras, criavam brinquedos com as próprias mãos e passavam horas explorando o mundo real ao redor. Eram dias em que a criatividade era o principal motor das brincadeiras, e o tempo parecia se estender de forma mágica nas tardes intermináveis de sol.

As brincadeiras de antigamente não dependiam de pilhas ou wi-fi. Elas nasciam da convivência entre os pequenos, do uso improvisado de objetos do cotidiano e, principalmente, da imaginação. Pular corda, jogar amarelinha, esconde-esconde, bolinha de gude, pião, taco, pega-pega — todas essas atividades envolviam o corpo, a rua, o quintal, e às vezes até as calçadas da vizinhança. Cada região tinha suas próprias versões dos jogos, adaptadas à geografia local e à cultura do bairro.

Além do fator lúdico, essas brincadeiras criavam laços duradouros. Elas ensinavam a negociar, cooperar, competir com respeito e, acima de tudo, incluíam. Não importava a roupa, o brinquedo ou o status social. O que importava era estar ali, no momento, com energia para correr e rir. Os jogos tinham começo, meio e fim, mas a lembrança deles permanece viva em quem viveu essa fase tão intensa da infância com liberdade e contato com o mundo real.

O que este artigo aborda:

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Fonte da imagem: Pexels

Ruas como cenário, amigos como invenção

Nas décadas de 70, 80 e até meados dos anos 90, as ruas não eram apenas passagens — eram palco das maiores aventuras infantis. Em um tempo em que o trânsito era menos caótico e o medo era outro, as crianças tomavam as calçadas como se fossem extensões de casa. A rua era lugar de encontro, aprendizado e autonomia. Os portões abertos, os muros baixos e a proximidade entre vizinhos formavam o cenário ideal para as brincadeiras se multiplicarem.

As tardes começavam com um grito na porta: “Vamos brincar?”. Bastava isso para que pequenos grupos se formassem em segundos, quase como mágica. O tempo era contado pelo sol, e o limite, muitas vezes, era o chamado da mãe do portão. Não havia programação prévia, não existia a exigência por brinquedos sofisticados ou uniformes especiais. As roupas se sujavam com facilidade, os joelhos ralavam e os sapatos, muitas vezes, perdiam a sola de tanto correr. Mas nada disso importava: o foco era se divertir.

Hoje em dia, quando buscamos roupas para brincar confortáveis e resistentes, tentamos resgatar um pouco daquela liberdade vivida pelas gerações anteriores. Porque o que valia, no fundo, era a disposição. As crianças improvisavam campos de futebol com chinelos como trave, criavam linhas de giz para amarelinha e corriam por quarteirões inteiros no esconde-esconde. E tudo isso acontecia com uma naturalidade que hoje soa quase utópica para muitas famílias.

A imaginação como ferramenta de diversão

As brincadeiras de antigamente não eram compradas, eram criadas. Um pedaço de barbante virava o fio de uma pipa; uma caixa de papelão virava carrinho ou casa de boneca; pedras e tampinhas de garrafa formavam os componentes de um jogo novo. A imaginação era o motor de tudo, e a falta de recursos materiais era muitas vezes o que tornava a brincadeira mais interessante. Quanto mais improvisado, mais divertido se tornava.

Essa capacidade criativa fazia com que cada criança fosse, ao mesmo tempo, inventor, jogador e juiz das próprias regras. Jogos como “telefone sem fio”, “batata quente” ou “detetive” dependiam quase exclusivamente da comunicação entre os participantes. A voz, o olhar e os gestos tinham papel central na dinâmica. Era a interação direta que sustentava a brincadeira, criando vínculos reais e fortalecendo habilidades sociais que hoje muitas vezes são terceirizadas aos algoritmos dos dispositivos digitais.

Sem distrações eletrônicas, a mente tinha espaço para viajar livremente. A infância era um tempo de invenção contínua, em que qualquer objeto podia ter múltiplos significados. E esse tipo de imaginação prática, que brota da interação com o mundo físico, gerava uma confiança profunda nas próprias capacidades. As crianças aprendiam a resolver problemas, a lidar com frustrações e a transformar o tédio em oportunidades criativas — tudo isso sem manual de instruções.

O ritmo do tempo e o valor do ócio

Nas brincadeiras de antigamente, o tempo era aliado e não obstáculo. A rotina era menos acelerada, e as atividades infantis não estavam encaixadas entre compromissos escolares, cursos extracurriculares ou alertas de aplicativos. A criança tinha o direito ao ócio, e esse tempo livre era justamente o que permitia o surgimento de ideias, de brincadeiras novas e de conexões profundas entre os pequenos. Era um tempo mais lento, mas muito mais rico em experiências.

Brincar não era um evento marcado na agenda. Acontecia espontaneamente, entre uma tarefa e outra, no intervalo da escola, depois do almoço ou logo ao entardecer. Essa fluidez dava às crianças uma liberdade de pensamento que hoje é cada vez mais rara. Quando o tempo não está cronometrado, o brincar vira uma exploração natural do corpo e da mente. E é nesse cenário que surgem as melhores memórias: aquelas que não foram planejadas, mas aconteceram com intensidade.

A ausência de pressa permitia que os jogos se prolongassem, que as conversas crescessem junto com a diversão, e que cada criança pudesse ser quem era, no seu tempo, sem pressão. Hoje, mesmo em meio à tecnologia, há um movimento crescente de retorno a esse valor. O uso de roupas mais leves, o incentivo ao contato com a natureza e a busca por brinquedos que estimulem a criatividade são reflexos de uma nostalgia coletiva que reconhece a importância do brincar livre e desprogramado.

Tradição, vínculo e memória afetiva

As brincadeiras de rua tinham também um valor cultural. Muitas delas eram passadas de geração em geração, como um patrimônio oral da infância. Os mais velhos ensinavam aos mais novos, que por sua vez ensinariam aos que viriam depois. Havia um senso de continuidade, de tradição compartilhada, que fortalecia vínculos entre irmãos, primos, vizinhos e colegas de escola. Ao mesmo tempo, essas brincadeiras se moldavam ao tempo e ao lugar, criando versões únicas e regionais.

O ato de brincar era também um espaço de convivência entre diferentes idades. Crianças de seis e doze anos podiam dividir o mesmo jogo, cada uma com seu papel, seu jeito e seu ritmo. Esse convívio intergeracional ajudava a desenvolver empatia, paciência e respeito. Era uma socialização espontânea e horizontal, bem diferente dos espaços controlados de hoje, onde as interações são muitas vezes filtradas por dispositivos e regras externas.

Hoje, quando relembramos esses momentos, o que nos vem à mente não são apenas os jogos em si, mas os rostos, os sons, as vozes e os cheiros do entorno. A infância vivida fora de casa, com liberdade, marca a memória de forma profunda. E embora os tempos tenham mudado, o espírito dessas brincadeiras pode ser resgatado — não só pelos pais e educadores, mas também pela escolha de espaços, brinquedos e roupas para brincar que incentivem a autonomia, o contato físico e a imaginação.

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